terça-feira, 6 de novembro de 2007

CONCLUSÃO

“Come il mondo è fatto: questo ce lo dice la scienza. Ma: perché esso esista, quale il suo senso? – a questo interrogativo la scienza non risponde. L’esistenza del mondo – dell’universo e di tutto quanto esso contiene – è il grande enigma. La scienza potrà indurci a considerare la nebulosa primitiva o l’iniziale punto-massa all’origine del big-bang; ma noi ci chiederemo ancora: e la nebulosa primitiva è il tutto o no della realtà? La scienza ci dice come è fatto il mondo: con la domanda metafisica (“perché l’essere piuttosto che il nulla?”) chiediamo, invece, il senso del mondo”[1].
“La fede è dono a parte Dei, e scelta a parte hominis”[2]. A fé não se dá e não termina em um mundo limitado pelo racionalismo. O transcendente é necessário à resposta mais profunda do ser humano. A resposta se encontra no mistério. Um mistério de amor e liberdade, de comunhão e reciprocidade, de relação.
A existência é dom gratuito de Deus, mas também compromisso. É possibilidade humana, mas também responsabilidade. Quanto mais se aprofundam a consciência e a compreensão do mistério, tanto mais se compreende e se há consciência do próprio ser: criatural, limitado, frágil, mas que se realiza no sobrenatural, no infinito.
Tudo o que existe ad extra de Deus, participa, de uma ou de outra maneira, da predestinação. Predestinação que é ato eletivo da vontade divina à graça e à glória. Como ato depende unicamente da vontade divina, vontade ordenada (racional), iluminada pelo intelecto, e sumamente livre seja para a escolha seja para a atuação, porque intrinsecamente livre em si mesma.
Esta vontade livre é movida pelo amor, pois Deus é amor. Criando o universo e, de modo especial, o ser humano, Deus o faz por amor e para o amor, desejando-se a si mesmo por primeiro e, em seguida, desejando amantes e coamentes.
A infinita perfeição divina e a predestinação como ato voluntário universal não cortam a liberdade da finitude criatural. O ser humano continua livre essencialmente na sua vontade, seja diante de si mesmo, seja diante das outras criatura, seja diante de Deus, pois é existência incomunicável, ultima solitudo. Aqui se ressalta que a predestinação não é um ato que determina a vida humana, mas a predispõe e a elege à graça e à glória. Permanece a liberdade, a qual pode perseverar no erro até o fim, comportando a si mesma a condenação. Donde se vê que o ato divino é um ato eletivo universal de amor e não de condenação, mas sumamente coerente com a liberdade doada pelo criador.
Nesta perspectiva, a graça é o dom que Deus faz gratuitamente de si mesmo, através do Verbo encarnado e do Espírito Santo. Esta graça é comunicação, auto-comunicacão de Deus, meio de relação entre o infinito e o finito, entre a onipotência e o limitado. Esta comunicação encontra em Jesus Cristo o seu ponto culminante, no qual, pela união hipostática, ocorre a união entre a criatura e Deus.
É esta união hipostática o ponto principal do projeto divino ad extra. O Verbo encarnado é o Sumamente Capaz de Amar, correspondendo à vontade amorosa do Pai, princípio da Trindade e de toda a criação. O Filho do Altíssimo, por ser o amante querido e pensado por primeiro, se torna assim a causa exemplar, eficiente e final de tudo ad extra da Trindade. Ele possui um primado absoluto seja na vontade divina, seja na execução desta vontade. A sua encarnação não foi condicionada por nada, pois era na vontade do Pai antes de qualquer existência contingente. Se a condição de pecado influi em alguma coisa é na encarnação passível e mortal, mesmo assim, a causa de um encontro entre a liberdade absoluta do Pai e da liberdade absoluta do Filho, pode-se hipotizar que também o Filho tenha escolhido a condição frágil e mortal para realizar o desígnio do Pai, pois a atuação na criação é sempre atuação trinitária. Isto exalta a divindade e o projeto divinos, pois demonstra um amor capaz de acolher também o “não” da criatura.
O seu primado absoluto, por ser o primeiro na vontade divina, por ser o “primogênito entre os mortos” (Col 1,18), por ser Deus-homem em forma passível lhe faz também o modelo de toda a criatura humana, lhe faz haver o primado na redenção (parte da encarnação, mas não motivo principal).
O ser humano, como diz a Gaudium et Spes 22, encontra em Cristo o sentido da sua existência e da sua vocação. Na reflexão do Doutor Sutil isto aparece como sendo o ser humano predestinado à glória em Cristo, predestinado à visão beatífica na medida em que, usando a sua liberdade, participa ativamente à vida divina, conformando-se, pela graça recebida, a Cristo.
A criatura humana possui, na criação, um posto central, porque feita à imagem de Deus, do Filho de Deus, pensada em vista da união hipostática e predestinada à visão beatífica em Cristo, é querida por Deus logo depois de Cristo, ou seja, é mais próxima do fim cristológico de toda a criação (fim teológico), não diferenciando-se das outras criaturas somente pelo aspecto volitivo e intelectual (aspecto filosófico).
Se a criatura humana possui um posto privilegiado por ser mais próxima do fim, na criação, Maria há um posto privilegiado por ser pensada no mesmo decreto do Filho do Altíssimo, pois é a mãe. De fato, se o Filho é pensado encarnado, deve haver uma mãe, deve haver alguma criatura que lhe dê a carne. Todos os privilégios desta criatura são por causa da maternidade. O Doutor Mariano demonstra que é uma verdadeira maternidade, com uma participação ativa de Maria na geração do Cristo.
Junto a isso, demostra a participação ativa da mulher na geração da prole, em uma época marcada pela idéia da passividade da mulher, por causa da filosofia aristotélica. Como todas as mães, Maria participa à formação do corpo do seu Filho, mas, no seu caso específico, é a única a doar a carne ao Verbo, pois não há concorrência masculina nesta geração, o concebimento se dá pela potência do Altíssimo, pela força do Espírito Santo.
Maternidade que a faz ser cheia de graça. Uma graça que não é diferente qualitativamente da recebida pelos outros beatos, pois todos participam da graça de Cristo, mas diferente na quantidade, pois recebe a plenitude da graça de Cristo. Isto não é só a causa da conveniência, mas é uma certa exigência da condição materna. O Verbo há a liberdade de escolher a mãe que quer, porém, uma vez escolhida, tem obrigações para com ela. Segundo o princípio de que o filho deve honrar os pais, Cristo tem um dever de honra para com a sua mãe. Isto significa que se pode enche-la de graça, o deve fazer.
Graça que é doada desde a sua concepção, começando pela escolha e eleição divinas, passando pela infusão da justiça original no primeiro instante da sua concepção, e continuando por toda a sua vida.
É na questão da doação da justiça original no primeiro instante que ocorreram as maiores discuções com Scotus. Aqui é necessário que ele renove o argumento, mostrando que Maria recebe este privilégio, de ser imaculada, pois tem a justiça original no momento de sua concepção, da livre e soberana vontade divina, a qual havendo em consideração e aceitando ab aeterno os méritos de Cristo, concede à Virgem uma graça totalmente especial. Colocando as várias possibilidades: no primeiro instante, no instante sucessivo, antes de nascer, o Doutor Sutil opta, defende e propõe como certa a doutrina sobre a redenção de Maria no primeiro instante da sua existência. Se somente Deus sabe o que de fato ocorre, é conveniente pensar e atribuir o mais excelente à Mãe de Deus, desde que não seja contra à Escritura e à Igreja.
Isto não diminui a honra de Cristo ou da Trindade, ao contrário, eleva-a ao grau mais excelente e supremo, pois ressalta a suprema liberdade amorosa da vontade divina, atuando na comunhão com a criatura; resgata o projeto original de Deus, pois retoma a criatura com a justiça original, pensada primordialmente no Cristo e criada na origem do tempo. De fato Adão, antes do pecado, era inocente, é a sua descendência que vem gerada sem a justiça original. Em Maria se dá, de certo modo, a recriação da humanidade inocente que deve dar a carne ao Filho do Altíssimo, o Verbo pensado eternamente encarnado. Reforça-se aqui a visão da predestinação à glória, pois mesmo que não houvesse pecado o Verbo se seria encarnado para unir humanidade e divindade, para portar toda a criatura humana à perticipação na vida divina, à sua realização sobrenatural.
Não se pode separar a reflexão sobre a Imaculada da redenção operada por Cristo e da vontade amorosa de Deus; redenção, universal e perfeitíssima; vontade que inclui a encarnação e a glória.
Maria, como todos os demais, teve necessidade de ser redenta por Cristo, pois Ele é o único Mediador e Redentor, e ela, como é criatura, participa da predestinação à glória em Cristo. Somente que, nela, se revela a perfeição máxima do Redentor, que não só resgata da queda, mas previne. Maria foi redenta preventivamente. O perfeitíssimo Redentor não deixa que a sua mãe contraia o pecado original, não ofendendo assim à Trindade, mostrando a necessidade da redenção, bem como uma maior obrigação em relação a Cristo; obrigação que se torna íntimo vínculo de unidade e comunhão.
A proclamação do dogma da Imaculada colocou fim nas disputas teológicas, mas iniciou a época da constante vigilância para não deixar cair na parcialidade doutrinal, a qual leva à “idolatria”, para renovar sempre a linguagem de modo a tornar o dogma compreensível no momento histórico, e para que a fé seja celebrada e vivida de modo verdadeiro e puro.
Precisando o objeto do culto, Pio IX coloca em ressalto a onipotência divina e a redenção atuada por Cristo em Maria, já no primeiro instante da sua existência. A Imaculada faz reconher Deus onipotente e o seu amor que cria comunhão. Faz reconhecer o Cristo como perfeitíssimo Redentor e como Aquele no qual, conformando-se a Ele, se encontra o desvelamento do mistério profundo do ser humano.
Conseqüências para a vida cristã são: um redescobrir o amor divino presente em cada momento da criação, atuado na infinita liberdade de Deus, mas numa comunhão com a finita e contingente liberdade criatural; a configuração com o Cristo como lugar onde se unem as naturezas humana e divina, união que, por meio da graça, leva à glória; graça e glória que são dons gratuitos de Deus. Uma outra conseqüência é a celebração da excelência da Trindade, a qual porta à excelência a humanidade.
Ver Maria como a criatura plenamente agraciada pelo amor de Deus, não deixando de ser filha de Adão, mas tornando-se Mãe de Filho do Altíssimo, faz ver nela o modelo todo relativo a Cristo e à Trindade, no pleno uso da liberdade pessoal.
Esta unidade entre Maria e Cristo, junto com os privilégios marianos, fazem desta mulher a revelação, com seu Filho, do mistério do homem, mistério já plenamente realizado:
“Maria, nova Mulier, proxima Christo adstat, novo Homini, in cuius mysterio tantummodo hominis mysterium clarescit, in quidem quasi pignus nobis data, ut fidem faciat divinum consilium de totius hominis salute in humani generis persona, hoc est in ipsa, iam adimpletum esse”[3].
No fim deste trabalho, ainda se quer acenar outros pontos da doutrina scotista: relação filosofia-teologia, o primado da revelação sobre a razão, a humanidade de Cristo, os sacramentos e a Igreja. Pontos não tratados especificamente aqui, mas que servem de estímulo à continuação do estudo.

[1] D. Antiseri, Un senso assoluto non costruibile può essere invocato, in Diritti umani e libertà in Duns Scoto, a cura di G. Lauriola, Ed. AGA, Alberobello, 2000, 19-29, p. 20.
[2] D. Antiseri, Un senso assoluto non costruibile può essere invocato, 25.
[3] MC 57, EV 5/94.

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